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pergunta:

"Até quando vamos ter que aguentar a apropriação da ideia de 'liberdade de imprensa', de 'liberdade de expressão', pelos proprietários da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?"

Emir Sader

25.2.07

DIGA AO BUSH



Eles transmitem todo o tempo o que o império quer nos dizer e são retransmitidos todo o tempo pelos órgãos da mídia local.
Agora que o Bush vem pra cá - dias 8 e 9 de março -, digamos o que queremos dizer a ele.
A revista estadunidense The Nation estampa na sua capa o que quer dizer ao presidentedos EUA:
"A opinião pública mundial está contra a escalada dos EUA no Iraque.
O povo americano está contra.
O Congresso está contra.
O povo do Iraque está contra.
O "governo" do Iraque está contra.
Pode um homem sozinho forçar uma nação a fazer uma guerra que ela não quer fazer, expandir uma guerra que ela não quer expandir? Se ele pode, é porque esta nação náo é mais uma democracia, em nenhum dos significados desse termo. Se isso é assim, como é possivel restaurar as normas democráticas e a forma republicana de governo?"
Digamos, cada um de nós - mais ainda as mulheres, já que essa expressão acabada da discriminação de gênero, estará aqui no dia internacional das mulheres -, o que temos a dizer à cabeça do maior império da história da humanidade.

Postado por Emir Sader em 23/02/2007 às 07:38

PARA NOS INFORMARMOS MELHOR



A mídia latino-americana é cada vez mais igual, de um país a outro: age como um bloco político e ideológico de direita, cada vez mais homogêneo. Faz oposição cerrada, em bloco, em países como o Brasil, a Argentina, a Bolívia, a Venezuela, o Equador. Isto é, se opõe frontalmente ao processo de transformações em curso no continente.
No segundo turno das eleições presidenciais brasileiras, Marco Aurélio Garcia pegou no nervo, quando disse duas coisas aos funcionários dessa mídia em uma entrevista coletiva, absolutamente verídicas e inquestionáveis: que em um país como a Espanha, quem quiser ler um jornal de esquerda compra o El País, quem quiser ler um jornal de direita compra o ABC. Enquanto que, no Brasil, todos os jornais são da mesma filiação ideológica, de direita. O outro comentário feito por Garcia foi dizer a esses empregados dos órgãos da imprensa oligárquica que o PT se ocupa da sua democracia interna, e que eles se ocupassem da democracia – absolutamente inexistente – nas redações onde trabalham.
Mas cada vez mais podemos contornar esses órgãos – que cada vez mais parecem ser redigidos por uma única pessoa, assemelhando-se todos entre si – e buscar fontes alternativas de informação e discussão. A necessidade de informação local pode nos levar a assinar um jornal, mas podemos informar-nos pela internet. Assim, contribuímos para a irresistível decadência de tiragem dos jornais, que este ano descerão da casa dos 200 mil exemplares diários, e deixamos de "financiar" suas campanhas direitistas.
Claro que temos os órgãos impressos alternativos, como Carta Capital, Brasil de Fato, Caros Amigos, Forum, entre outros. Mas é bastante útil acessar e ler diariamente ao melhor jornal do continente – o La Jornada, do México (www.jornada.unam.mx), de acesso gratuito, especialmente na sua cobertura internacional e da América Latina em particular, assim como os artigos de debate e a cobertura da situação mexicana.
Da mesma forma, é bastante útil a leitura do Página 12, da Argentina (www.pagina12.com.ar), também de acesso gratuito. Esses jornais são a melhor fonte para seguir cotidianamente a situação na Bolívia, no Equador, na Venezuela, em Cuba – em suma, nos países que perturbam a hegemonia da direita no continente, tanto do império quanto do oligopólio midiático de cada país e que, por isso, são vítimas especiais das deformações e das campanhas desqualificadoras.
O espanhol El Pais – este de acesso restrito (www.elpais.com.es) - também é fonte que pode resultar útil, embora sobre a Venezuela e Cuba seja particularmente hostil.
Na internet se pode encontrar muitas páginas alternativas, além de Carta Maior (www.cartamaior.com.br), inclusive as de jornalistas que trabalham na mídia tradicional – como Paulo Henrique Amorim (www.ig.com.br), Luis Nassif , além do blog do próprio Mino Carta, na página da Carta Capital (www.cartacapital.com.br), entre outros que ajudam a diversificar a informação.
Entre as publicações internacionais, é indispensável a leitura do Le Monde Diplomatique, que pode ser encontrado na página do UOL. Da mesma forma, a revista estadunidense The Nation (www.thenation.com) tem textos muito bons. Como revistas teóricas, há várias boas no Brasil, dentre elas Margem Esquerda (www.boitempoeditorial.com.br), Crítica Marxista (www.revan.com.br). Dentre as revistas teóricas internacionais, considero a melhor a New Left Review, que tem edição em inglês e em castelhano, acessíveis na página www.newleftreview.org).
Aqueles que tenham outras sugestões de fontes alternativas, de qualquer tipo, que favoreçam uma informação crítica e plural, além de promover debates frutíferos com visões progressistas, podem escrever, para que enriqueçamos a informação coletiva nesta luta contra o monopólio da palavra e pela criação de consensos democráticos no Brasil.

Postado por Emir Sader, em 17/02/2007 às 17:52

21.2.07

30ª ROMARIA DA TERRA - “PRESERVAR TERRA E ÁGUA: GARANTIA DE VIDA”

A Romaria é um momento no qual os pequenos agricultores gaúchos têm para juntos celebrar a vida na terra; tratarem assuntos que dizem respeito à própria sobrevivência e para assumirem compromissos de luta em conjunto por suas legítimas causas.
A 30ª Romaria da Terra tem como lema: “Preservar terra e água: garantia de vida”. Estes são os grandes horizontes da luta permanente dos agricultores, pois água e terra são sinônimo de vida, daí o compromisso de preservá-las. Este lema está relacionado com a natureza, é uma preocupação de todos e está ligado à Campanha da Fraternidade de 2007, que faz um alerta para a preservação da Amazônia, considerada o pulmão do mundo.
A região de Pinheiro Bonito foi escolhida porque lá predomina a pequena propriedade com produção diversificada: lavouras de arroz, soja e milho, fumo, fruticultura (uva, laranja, melancia, pêssego e bergamota), entre outros.
O modelo de agricultura camponesa deve ser valorizado e promovido. Estão surgindo na região várias alternativas de produção.
A Romaria também quer denunciar a monocultura, especialmente de eucaliptos; destacar a importância da preservação da água, das matas nativas e o bioma Pampa.

16.2.07

"No importa el paisaje, importa es mirar con otros ojos.
(...)
Siempre existirá la belleza..."
Rosa Montero

10.2.07

Sobre sectarismo...

"O Sectário raciocina como se ele próprio houvesse aprendido tudo de uma só vez.
Esquece-se de que não nascemos revolucionários, tornamo-nos revolucionários.
Esquece-se ainda que tem muito a aprender.
Assim sendo, não deveria encolerizar-se muito mais consigo próprio do que com os outros?
O verdadeiro revolucionário é aquele que, como dialético, cria as condições favoráveis ao advento do novo."
Politzer

6.2.07

MINISTÉRIO QUER DEMOCRATIZAR ACESSO AO CINEMA


É difícil resistir a uma sessão de cinema, mas muita gente não tem essa chance – seja pela distância ou pelo preço do ingresso. O primeiro passo da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura para democratizar o acesso ao cinema foi dado nesta segunda-feira (05), em São Paulo, com o lançamento do Programadora Brasil (clique aqui para ver a reportagem em vídeo).

O Programadora vai funcionar como uma distribuidora de filmes nacionais para espaços não-comerciais, como cineclubes e universidades públicas, que exibirão os filmes de graça.
“A oferta gratuita é uma forma de trazer consumidores para o cinema”, afirmou o ministro da Cultura, Gilberto Gil, presente ao lançamento.

O arquivo do Programadora Brasil conta com 126 títulos, cobrindo 90 anos de cinema nacional. A intenção é chegar a mil filmes até o final do ano.

Entre os títulos estão “Bebel, garota –propaganda”, de 1967, do diretor Maurice Capovilla, e o recente e premiado “O prisioneiro da grade de ferro”, de Paulo Sacramento, de 2004.

Os títulos serão vendidos por R$ 25,00 cada um ou em pacotes de três ou mais títulos. Os pontos de exibição que quiserem ter acesso ao projeto devem se cadastrar no site www.programadorabrasil.org.br.

A única exigência é que as exibições sejam gratuitas.

4.2.07

O QUE É A GLOBALIZAÇÃO




Sob o título “O mercado contra o Estado", Ignacio Ramonet – editor do Le Monde Diplomatique e autor de “Biografia a duas vozes”, entrevista de cem horas com Fidel Castro (Boitempo Editorial) – dá uma sintética e competente definição da globalização neoliberal.
Usemos este texto como tema de discussão, para entender melhor os problemas do nosso tempo, do mundo e do Brasil. É um bom texto para ser reproduzido e utilizado em seminários de debate."
O que é a globalização? O enfrentamento central do nosso tempo. Aquele do mercado contra o Estado, do steor privado contra os serviços púiblicos, do indivíduo contra a coletividade, dos egoísmos contra as solidariedades.
Por todos os meios, o mercado procura ampliar sua área de intervenção em detrimento do Estado. É por isso que as privatizações se mutliplicam em todos os lados. Elas são, de fato, simplesmente tranferências para os setor privado de fragmentos (empresas, serviços) do patrimônio público. O que era gratuito (ou mais ou menos barato) e à disposiçáo de todos os cidadãos sem distitnção se torna pago ou mais caro. Esta grande regressão social tem sobretudo relação com as camadas mais pobres da população. Porque os serviços públicos são o patrimònio dos que não têm patrimônio.
A globalização é também, pelo mecanismo das trocas comerciais, a interdependência cada vez mais estreita das economias de numersos países. O fluxo das exportações e das importações aumenta regularmente. Mas a globalização das trocas se refere sobretudo ao setor financeiro, porque a liberdade de circulação dos fluxos de dinheiro é total. E isto faz com que este setor domine, com grande vantagem a esfera da economia.
As pessoas que detêm fortunas se encontram, para mutliplicar seu capital, diante da seguinte alternativa: seja investir seu dinheiro na Bolsa (não importa em que Bolsa do mundo, pois os capitais circulam sem entraves), seja investi-lo em um projeto industrial (criação de uma empresa de fabricação de produtos de consumo). Neste caso, a rentabilidade média é de entre 6 e 8% na Europa. Em compensação, no caso de um investimento na Bolsa, a rentabilidade pode chegar a níveis muito mais altos (na França, em 2006, os mercados bursateis conheceram uma alta de 17,5%, na Alemanha de 22% e na Espanha de 33,6%!)
Diante de diferenças tão grandes, os proprietários de capitais só aceitam investir na indústria (onde são criados empregos) com a condição de que isso lhes renda cerca de 15% ao ano. Mas vimos como a rentabiliade média para esse tipo de investimento na Europa é de entre 6 e 8%. O que fazer? Pois bem, investir na China ou na Tailândia, por exemplo, países nos quais, em razão dos custos muito baixos da mão de obra, o retorno sobre o investimento pode chegar e até superar os 15%. É por isso que tantos investimentos são feitos atualmente, principalmente na China.
E como a finalidade do exercício consiste em fabricar com baixos custos nos países pobres para vender a preços muito altos nos Estados ricos, isso leva a uma avalanche de produtos importador dos países-fábricas e vendidos, por exemplo, na Europa. Aqui eles competem deslealmente com os mesmos produtos fabricados no Velho Continente com custos de mão de obra mais altos porque os direitos sociais dos trabalhadores são aqui – felizmente – mais importantes. Em conseqüência as empresas européias vão à falência e numerosos outras são obrigadas a fechar as portas e a licenciar seus trabalhadores.
Para sobreviver, alguns capitalistas optam por “deslocalizar”, isto é, transferir seu centro de produção para um país com mão de obra barata. O que se traduz, também nesse caso, nos países ricos, em fechamento de empresas e em desemprego.
A globalização atua assim como uma mecânica de triagem permanente sob o efeito de uma concorrência generalizada. Há concorrência entre o capital e o trabalho. E, como os capitais circulam livremente, enquanto os homens são muito menos móveis, quem ganha é o capital.
Da mesma forma que oa grandes bancos ditaram, no século XIX, sua atitude para numerosos países, ou como as empresas multinacionais o fizeram entre os anos 1960 e 1980, os fundos privados dos mercados financeiros têm agora em seu poder o destino de muitos países. E, em certa medida, o destino econômico do mundo.
Os mercados financeiros estão em condições de ditar suas leis aos Estados. Nessa nova paisagem político-econömica, o global se impõe sobre o nacional, a empresa privada sobre o Estado. Náo há praticamente mais distribuição de renda e o único ator do desenvolvimento – nos dizem – é a empresa privada, o único reconhecido como competente em escala internacional. E assim o único motor em torno do qual – nos dizem – é preciso reorganizar tudo.
Em uma economia globalizada, nem o capital, nem o trabalho, nem as matérias primas constituem, em si, o fator econômico determinante. O importante, é a relação ótima entre esses três fatores. Para estabelecer essa relação, uma empresa não leva em conta nem as fronteiras, nem as regulamentações, mas apenas a exploração mais rentável que ela possa fazer da informação, da organização do trabalho e da revolução da gestão. Isso produz sistematicamente uma fratura das solidariedades dentro de um mesmo país. Ocorre assim um divórcio entre o interesse das empresas e os interesses da coletividade nacional, entre a lógica do mercado e a lógica da democracia.
As empresas globais fingem que não têm nada com isso: elas sub-contratam e vendem no mundo inteiro; e reivindicam um caráter supra-nacional que lhes permita atuar com uma grande liberdade porque não existe, para dizê-lo de alguma maneira, instituições internacionais com caráter político, econômico ou jurídico em condições de regulamentar eficazmente seu comportamento.
A globalização constitui assim uma imensa ruptura econômica, política e cultural. Ela submete os cidadãos a uma regra única: “adaptar-se”. Abdicar de qualquer vontade, para obedecer mais às injunções anônimas dos mercados. Ela constitui o ponto de chegada final do economicismo: construir um homem “mundial”, esvaziado de cultura, de sentido e de consciência do outro. E impor a ideologia neoliberal em todo o planeta".


(Publicado em “Les dossiers de la mondialisation”, Manière de voir de Le Monde Diplomatique – janeiro-fevereiro de 1007

(Tradução de Emir Sader)
Postado por Emir Sader em 27/01/2007, às 17:15

VIVER (MORRER) NO IRAQUE




Nada sintetiza melhor o mundo de hoje do que viver no Iraque. Dezenas de mortos por dia, em qualquer lugar, a qualquer hora, de qualquer maneira. Corpos de mulheres, de crianças, de idosos, povoam os noticiários, sem provocar qualquer sentimento de horror e de indignação. No entanto, quem não conseguir se identificar com o inferno a que estão reduzidos os iraquianos, não tem o direito de se chamar ser humano.

Viver – e morrer – em um país invadido, massacrado, humilhado, em estado de decomposição. Viver em um país em que a primeira coisa destruída depois da invasão foram os museus, a memória da mais antiga civilização do mundo. E a primeira coisa protegida foram os poços de petróleo, combustível das guerras infinitas do império insaciável de petróleo e de destruição. Porque é uma invasão para acabar com um país e nada melhor do que acabar com sua memória, com sua história, com sua identidade, com seu passado, para que não cogite pensar em seu futuro.
Como viver um cotidiano feito de explosões, de bombardeios, de bombas, de disparos, de tropas ocupando ruas, praças, mesquitas, uma vida cheia de morte? Que mundo é este, que convive com as dezenas de mortes cotidianas, como se fosse uma catástrofe natural? Como se não tivesse sido produzida por uma guerra, por uma invasão, por mais uma agressão de um império?
O Che falou da solidão do Vientã e pediu energicamente pela unidade em apoio ao Vietnã, que lutava contra invasão do mesmo poder imperial. Houve unidade dentro do Vietnã e no apoio, o povo dos EUA se deu conta das monstruosidades que estavam cometendo.
Aquela tremenda solidão não é nada comparada com a solidão do povo iraquiano e do povo palestino. Quem, no mundo de hoje, acorrerá para impedir o extermínio desses povos? Quem lhes garantizará o direito a viver, o direito a existir? Quem perderá o medo ao império e levantará a voz, o punho, para dizer: BASTA!
Enquanto se morre diariamente no Iraque, na Palestina, não temos direito à paz, à tranqüilidade, ao presente e ao futuro. Não temos o direito a nos considerarmos humanos. Ou somos todos iraquianos e palestinos ou nos teremos tornado irremediavelmente desumanos.


Postado por Emir Sader em 02/02/2007, às 15:09

AS TRAPALHADAS DE BUSH

Frei Betto
Joseph Stiglitz ganhou o Prêmio Nobel de Economia e foi economista-chefe do Banco Mundial. Linda Bilmes ensina finanças públicas em Harvard. Juntas, as duas cabeças calculam que Bush já gastou US$ 2,2 trilhões na guerra do Iraque. O orçamento real é 22 vezes maior que o oficialmente declarado. Isso é mais de duas vezes o PIB do Brasil, orçado hoje em R$ 1,9 trilhão.
Bush demitiu, em 2003, seu mais alto assessor econômico, Larry Lindsey, por ter ousado sugerir que o custo da guerra podia chegar a US$ 200 bilhões. A Casa Branca irritou-se na época e se desdobrou no Congresso para acalmar os parlamentares. Despachou Paul Wolfowitz (era o número 2 do Pentágono e é, hoje, presidente do Banco Mundial) para ir lá e jurar a deputados e senadores que o próprio Iraque financiaria tudo com o petróleo que jorra de seu solo...
A intervenção dos EUA no Iraque resulta de uma seqüência de mentiras. Primeiro, Bush alardeou que o governo de Saddam estaria envolvido no 11 de setembro. A acusação jamais foi comprovada. Depois, acusou-o de estocar armas de destruição em massa. Saddam abriu as portas do país e permitiu que peritos da CIA o revirassem de cabeça para baixo. Após um ano de investigações, nada foi encontrado. Os grandes jornais dos EUA chegaram a pedir desculpas aos leitores por terem acreditado no engodo. Enfim, Bush tentou justificar o atoleiro em que se meteu prometendo fazer do Iraque uma democracia capaz de disseminar-se pelo mundo árabe. Forjou eleições, dividiu a nação e aprofundou a mortandade.
Saddam Hussein foi enforcado sob acusação de matar 104 xiitas. Na época, o Iraque estava em guerra com o Irã e o ditador era um títere em mãos de Tio Sam. O apoio foi levado a Bagdá por Donald Rumsfeld, que até há pouco monitorava o Pentágono e a guerra no Iraque.
Bush está desesperado. Com a aprovação popular em míseros 27%, e as derrotas nas eleições da Câmara e do Senado, tenta convencer os estadunidenses de que vale a pena enviar, nos próximos 5 anos, mais 92 mil soldados para o Iraque (estão lá 150 mil das tropas de intervenção). Pesquisas apontam que 61% da população dos EUA são contra o envio de mais tropas.
Já morreram no Iraque 3 mil soldados made in USA e 700 mil iraquianos. Como cota de urgência estão seguindo mais 20.000 soldados – número insignificante numa Bagdá com 5 milhões de habitantes hostis à presença dos EUA.
Ao se referir ao custo da guerra, Bush omite os gastos com cerca de 20 mil militares feridos. Hoje, as máquinas de guerra oferecem blindagens mais resistentes. Diminuem o total de mortos, mas produzem mais feridos: daí os enormes gastos com amputações, internações, indenizações, aparelhos ortopédicos etc. Calcula-se que só os danos cerebrais consomem US$ 35 bilhões.
Com a invasão do Iraque, Bush concedeu ao terrorismo status de guerra, ampliou o poder de recrutamento de suas organizações e ofereceu-lhes objetivos e alvos concretos. No Iraque, o terror sabe onde e em quem atirar, enquanto as tropas de ocupação miram em alvos imprecisos e penalizam a população civil.
O que fará Bush? Se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come. Nem pode retirar as tropas do Iraque, exceto admitindo a derrota, nem sabe como, por que e até quando mantê-las ali. Além da guerra coordenada pelo Pentágono, há também uma guerra civil que cindiu a unidade nacional iraquiana. Os EUA não podem apoiar os sunitas, seus inimigos históricos. Não podem apoiar os xiitas, aliados do Irã. Não podem apoiar os curdos, porque a Turquia não toleraria.
A milícia xiita, conhecida como Exército do Mahdi, liderada pelo clérigo Moqtada al-Sadr, conta com 60 mil combatentes, taticamente apoiados por 2 milhões de xiitas que habitam o leste de Bagdá. O Exército e a polícia iraquianos são constituídos predominantemente por xiitas. Como oferecer segurança aos bairros habitados por sunitas, que apóiam seus rebeldes?
Bush, considerado o homem mais bem assessorado do mundo, comprovou a lei de Murphy: “Se tudo pode dar errado, dará”. O grave é que o move a sede de vingança. Não se conforma de seu pai ter fracassado na tentativa de derrubar Saddam Hussein, em 1991, e de sua família ter sido sócia dos Bin Laden em negócios de petróleo. Como bem escreve Herman Melville em Moby Dick: “Ah, Deus! Que tormentos sofre o homem que se consome com seu desejo de vingança. Dorme de mãos cerradas e acorda com as unhas ensangüentadas cravadas nas palmas.”
Frei Betto é escritor, autor de “A menina e o elefante” (Mercuryo Jovem), entre outros livros.

Cancion con todos

Salgo a caminar
Por la cintura cosmica del sur
Piso en la region
Mas vegetal del viento y de la luz
Siento al caminar
Toda la piel de america en mi piel
Y anda en mi sangre un rio
Que libera en mi voz su caudal.

Sol de alto peru
Rostro bolivia estaño y soledad
Un verde brasil
Besa mi chile cobre y mineral
Subo desde el sur
Hacia la entraña america y total
Pura raiz de un grito
Destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas
Todas las manos todas
Toda la sangre puede
Ser cancion en el viento
Canta conmigo canta
Hermano americano
Libera tu esperanza
Con un grito en la voz